As Primeiras Formulações
- trabalhismoemmovim
- 21 de ago. de 2023
- 5 min de leitura
De Arnaldo Mourthé
Para compreender melhor qualquer processo político duas questões
são fundamentais. O conhecimento da história e a análise dos interesses das
diversas forças em confronto, inclusive a ordem econômica mundial e a
geopolítica e suas tendências.
O estudo da história do Brasil, sobretudo do último século, é
fundamental para compreendermos seus êxitos e desacertos, além de
verificar-se seu real potencial. Constatamos que a Revolução de 30 foi um
grande esforço para implantar plenamente a república, até então uma
confraria de coronéis e exportadores a serviço de seus próprios interesses e
daqueles das metrópoles que nos espoliavam.
Os revolucionários de 30 tiveram vários êxitos, embora não pudessem amparar todos os
trabalhadores e sanar toda injustiça social. As leis trabalhistas não
alcançaram os trabalhadores do campo, não foi eliminado o analfabetismo
nem o desequilíbrio no desenvolvimento regional, por exemplo. Mas o
Brasil tornou-se o país que mais se desenvolveu, entre as décadas de 30 e
de 70, e muitas conquistas sociais permitiram o rompimento do certo que o
colonialismo impôs ao trabalho e que os governos do Império e da primeira
fase republicana não se esforçaram para superar.
Com os estudos, compreendeu-se que a inevitabilidade do modelo
neoliberal era uma balela, e que o projeto nacional de Getúlio Vargas
continuava como a melhor opção brasileira para o desenvolvimento
nacional. A Carta de São Paulo descreve com grande propriedade essa
questão.
“As justificativas dos governos para implantar e manter a política
neoliberal que estagnou a economia e agravou o problema social
brasileiro são inconsistentes e ridículas. O modelo econômico que aí está
nos foi imposto como se não houvesse alternativa, o que é uma grande
mentira. Isso foi possível pela força do dinheiro e da chantagem,
mobilizando mídia, políticos e intelectuais para convencer-nos desse
absurdo. Nada pode existir que obrigue um grande país como o nosso à
rendição.
O que há, na verdade, é uma grande ilusão a respeito do capital
estrangeiro. Barbosa Lima Sobrinho dizia e repetia que o capital se faz
em casa. Ele estava certo. O progresso que o capital estrangeiro nos traz
é fugaz, e só busca o lucro. Ele só pode ser útil se estiver sob adequado
controle legal. O grande progresso do Brasil se fez quando Getúlio
Vargas assumiu o poder com a Revolução de 30 e implantou um projeto
de desenvolvimento para o Brasil com Soberania e Justiça Social.
Mesmo tendo que renunciar ao governo, logo após a Segunda
Grande Guerra, quando voltou ao poder, ele retomou o projeto nacional
de seu primeiro governo, criando a Eletrobrás, a Petrobrás e o Fundo
Rodoviário Nacional com o imposto sobre os combustíveis. Sua postura
de estadista patriota custou-lhe caro. Na sua Carta Testamento ele
afirma: ‘Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas
riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de
agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculizada até o desespero. Não
querem que o trabalhador seja livre’.
Os governos que se seguiram viveram o dilema de continuar o
projeto trabalhista de Getúlio Vargas ou ceder aos interesses do capital
estrangeiro, tornando instável a democracia brasileira, até que, em 1964,
veio o golpe militar.
A ditadura que se instaurou governou como se houvesse um pacto de concessões mútuas, o governo reforçou a presença estatal na economia, mas abriu-se ao capital financeiro internacional, através do endividamento externo. Transformaram uma dívida de 2,4
bilhões de dólares, em 1964, em 79,1 bilhões de dólares em 1984. Criou-se assim
uma fonte de crises e eum instrumento de pressão para novas concessões
dos governos que se seguiram, bloqueando o crescimento
econômico nacional.
A partir de 1990, com a cumplicidade de nossos governos, um
modelo econômico perversos e vicioso foi implantado no Brasil. Ele
privilegia o capital com o sacrifício do trabalhador. Os rendimentos do
trabalho vêm diminuindo com conseqüente redução da capacidade de
compra da família brasileira, o que provoca a estagnação econômica e,
com ela, a redução dos empregos.
A diminuição dos salários e o desemprego reduzem o mercado, gerando crise de consumo. Para consumir os excedentes da produção as exportações precisam crescer e
gerar saldo na balança comercial, que pagará as transferências dos
lucros e dos juros da dívida externa. Dessa forma, nossa capacidade de
poupança é desviada do seu caminho legítimo do investimento para o
desenvolvimento, para alimentar o sistema financeiro internacional. Se
alguém ainda se pergunta o que vem a ser ‘perdas internacionais’ já tem
a resposta: a transferência para os países ricos da nossa poupança,
construída com o sacrifício da população brasileira’.
A redução da renda do trabalho e o desemprego criam demandas
extras de serviços públicos. A pequena expansão das receitas, devido à
estagnação econômica, leva o Estado já endividado a contrair novas
dívidas e a aumentar a tributação, num círculo vicioso como uma bola de
neve. Assim, ele acaba por tornar-se prisioneiro dos interesses do sistema
financeiro e incapacitado para prestar os serviços necessários à
população.
Tudo isso influi negativamente na vida das pessoas e produz
distúrbios na sociedade que, na medida de seu agravamento, produz crise
social. Debilitado, o Estado negligencia seus instrumentos de defesa das
instituições e da cidadania, a Justiça, as Forças Armadas, no plano
externo, e as Polícias, no plano da segurança pública. Estamos vivendo
no Brasil essa fase, que nos levará a ser um novo tipo de colônia.
De 1990 até agora a participação da massa salarial no PIB
brasileiro caiu mais de 30%.
O mesmo fenômeno se deu no México, na Argentina e em muitos outros países.
Esse modelo engorda o sistema bancário e as contas dos especuladores,
gerando o fausto e a soberba, e emagrece a renda do trabalho produzindo a miséria, a doença, a exclusão social e a violência. Sustentando essa insânia está uma dívida pública
impagável e paradoxalmente crescente.
A doutrina neoliberal não serve ao povo brasileiro, nem à
humanidade. Como se isso já não fosse insuportável, veio agora o
unilitarismo americano, uma nova vertente do neoliberalismo, apoiado
numa combinação de negócios, guerras e ameaças, em flagrante
desrespeito ao direito internacional e à autodeterminação dos povos.
Esses dois processos de dominação estão produzindo a insegurança, o
terrorismo e conflitos diversos, inclusive religiosos e étnicos, vitimando
milhões de pessoas inocentes e inviabilizando a liberdade e o progresso
para muitos povos. CONTRA TUDO ISSO O POVO BRASILEIRO
ELEGEU LULA PRESIDENTE DA REPÚBLICA. PARA NOSSA
INFELICIDADE, LULA ADERIU AOS PRECEITOS E
COMPROMISSOS DOS ADVERSÁRIOS DO POVO BRASILEIRO,
AGRAVANDO A NOSSA SITUAÇÃO.
Tudo isso indica a necessidade urgente de substituir o modelo
econômico neoliberal adotado no Brasil, por outro que promova o
desenvolvimento e o progresso para alcançarmos a Justiça Social e
consolidarmos a Soberania Nacional e a Paz”.
Com o exposto, já podemos anunciar uma primeira conclusão do
Projeto Brasil Trabalhista. O estudo da história permite afirmar que há uma
grande contradição entre os interesses nacionais e os do capital estrangeiro.
As experiências vividas nesses 15 anos de políticas neoliberais mostram
que essas contradições se tornaram agudas, obrigando os brasileiros a uma
decisão entre a submissão aos interesses externos ou resistir na defesa dos
seus.
É preciso barrar o avanço desse processo perverso e implantar um
projeto nacional de desenvolvimento, com soberania e justiça social.
Em momentos como este é preciso lembrar dos grandes pensadores.
Darcy Ribeiro falando sobre o governo Jango, do qual foi Chefe da Casa
Civil, disse que ele, o governo Jango, “NÃO CAIU POR EVENTUAIS
DEFEITOS NOSSOS. FOI DERRUBADO PORQUE REPRESENTAVA
UMA AMEAÇA INADMISSÍVEL PARA AS CLASSES DOMINANTES
NATIVAS E SEUS ASSOCIADOS ESTRANGEIROS. CAÍMOS
TOMBADOS POR UMA INTENTONA URDIDA NO ESTRANGEIRO.
COMO SE COMPROVOU POSTERIORMENTE COM A DIFUSÃO
DOS ARQUIVOS DO PRESIDENTE NORTE-AMERICANO DE
ENTÃO”. Aos pessimistas que não acreditam que as grandes causas
possam ser vitoriosas, oferece-se a palavra do frei Leonardo Boff, que
disse: “A MEMÓRIA DOS VENCIDOS É SEMPRE PERIGOSA,
CAPAZ DE PROVOCAR GRANDES MUDANÇAS. ELAS IRÃO UM
DIA ACONTECER PORQUE REPRESENTAM O QUE DEVE SER”.
Por Euclides Lopes
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